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sexta-feira, 21 de março de 2014

A vida que eu tinha ficou para trás', diz vítima de acidente na BR-367

'A vida que eu tinha ficou para trás',
diz vítima de acidente na BR-367


Antônio Amaral

              No dia 11 de fevereiro de 1999, uma data que Antônio Amaral não consegue esquecer. Era noite, quando ele resolveu ir a uma festa de rodeio na zona rural de Berilo. 


“Passei pela ponte, 
que estava cheia de buracos 
e sem corrimão, desequilibrei e cai de costas”
Relata uma das vítimas da BR-367.

              A queda de uma altura de aproximadamente 10 metros provocou uma fratura na medula e fez com que a vida do carpinteiro tomasse outros rumos. Sem o movimento das pernas e dos braços Antônio vive há 14 anos na cadeira de rodas.

“Fiquei mais de um ano internado entre a vida e a morte, 
estar assim hoje já é uma grande vitória”
Relata.

              O acidente, as dificuldades para adaptar à nova rotina, os prazeres que ficaram pra trás. Nada destruiu a alegria de viver do ex-carpinteiro, que diante do problema sempre encontra palavras para expressar o quanto é importante estar vivo. 

“Eu aprendi a valorizar mais as pessoas e a vida, 
mesmo nessa situação é muito bom viver. 
Tenho minha família que me apóia e me ajuda, 
e assim eu vou seguindo meu destino”

"A 367 é uma vergonha, 
precisamos de uma solução 
para que não tenhamos outras vítimas"
Antônio Amaral

José Aparecido
              Do corte de cana à aposentadoria. José Aparecido, de 35 anos, também teve um destino bem parecido com o do ex-carpinteiro Antônio Amaral. Duas vidas interrompidas pela BR-367

              Ele passava de motocicleta na ponte de madeira em Berilo-MG, (saída para Virgem da Lapa) quando escorregou em uma tábua e caiu. 

“Bati o ombro em um dos cabos de aço 
e fiquei pendurado na ponte. 
Por causa da lesão perdi o movimento do braço direito 
e ainda sinto muita dor"
Conta.

              Depois do acidente, o homem que vivia do corte de cana, enfrentou muitas dificuldades para se adaptar à nova rotina. 

“No início eu pensava que a minha vida tinha acabado, 
porque meu trabalho era o corte de cana, 
mas sem o braço eu não podia mais trabalhar. 
Com muito sacrifício consegui me aposentar, 
e é com esse recurso que hoje sustento minha família”
Acrescenta.

              Cada passo na ponte de madeira é marcado por lembranças ruins, porém essa é a única alternativa que José tem para atravessar. 

“Não gosto nem de lembrar dessa ponte, 
fiquei muito traumatizado, 
só passo por aqui porque infelizmente 
não existe outro caminho”
Desabafa. 

Um passeio sem volta


              Na foto uma família feliz, repleta de sonhos e esperanças, a comemoração era de um aniversário, três dias antes do acidente que levaria duas vidas. Era a primeira vez que a família Martins viajaria para a praia em um veículo próprio. Outros passeios ao litoral já tinham acontecido, mas sempre de ônibus. No dia 4 de abril de 2012, 10 pessoas da família se dividiram em dois carros. Eles saíram de Itaobim-MG com destino a Porto Seguro, uma viagem que já estava programada a algum tempo.

“No veículo da frente estavam meus pais, 
meu irmão, minha irmã e uma sobrinha, 
o carro deles caiu em uma ponte de madeira sem estrutura, 
entre Almenara e Jacinto,” 
Explica a família de Andreia Alves Martins. Wilson Pereira Martins, de 58 anos, (camisa verde limão) e o filho Wildene Alves Martins, de 34 anos, (camisa listrada) não resistiram aos ferimentos e morreram no local do acidente.

É triste ver uma rodovia 
que faz uma ligação importante 
ser tão esquecida pelas autoridades
Andreia Alves Martins

              Em meio a saudade e a dor restaram os ensinamentos deixados pelo pai, que ajudam a família Martins a seguir em frente. 

“Meu pai sempre dizia que não sabíamos qual de nós 
morreria primeiro, mas aqueles que ficassem teriam 
que ser fortes e fortalecer uns aos outros”
Diz.

              Com a morte das duas pessoas importantes e com a mãe e a irmã muito machucadas, Andreia teve que deixar o emprego em uma fábrica na cidade de Nova Serrana, onde morava há cinco anos, e retornar para Itaobim, sua terra natal. 
“Eu voltei para cuidar delas. 
A minha mãe faz tratamento até hoje 
e a minha irmã abandonou o trabalho 
e ainda sente muita dor”
Ressalta.

              Foi identificado através de relatos de policiais rodoviários os três trechos que são considerados como os mais perigosos da região, onde acontece a maioria dos acidentes.

              A estatística aponta um crescimento de mais de 15% no número de acidentes no ano de 2012, em comparação com 2011. Apenas, na região de Turmalina houve uma redução, de 27 para 18 casos. Em 2011, 17 pessoas morreram, e em 2012 foram 14 vítimas fatais nesse trecho.

              Segundo o sargento Geraldo Caetano, da Polícia Militar Rodoviária, responsável pela região, 70% dos acidentes registrados acontecem no trecho conhecido como descida da ponte alta, já chegando em Turmalina.

“Temos um declive acentuado de 6 km 
com curvas muito fechadas”
justifica. 
              Ainda de acordo com ele, várias blitz têm sido realizadas e um trabalho preventivo, que objetiva reduzir cada vez mais essa estatística.

              Nesse trecho, que é asfaltado e em boas condições, a polícia aponta quatro fatores que têm contribuído para os acidentes; falta de atenção do condutor, imprudência, excesso de velocidade e ultrapassagem em locais proibidos.

Atendimento nos hospitais
              O número de acidentes reflete no percentual de atendimento dos hospitais da região.
              Na cidade de Berilo-MG, por exemplo, segundo o médico plantonista Jansem Lucio Leo de Souza, são atendidos até três pacientes por dia, com lesões leves, vítimas de acidente na BR-367.

“Pelo menos uma vez na semana, 
atendemos um paciente em estado mais grave, 
apresentando fraturas expostas 
ou traumatismo craniano”
Diz.

              O médico ressalta que a maioria das pessoas que buscam atendimento no hospital se acidenta de motocicleta, no trecho da rodovia que ainda está sem asfalto.

“O número de motos cresceu muito na zona rural, 
com isso os acidentes também têm aumentado. 
Para mim, a falta de experiência dos motoristas, 
aliado a condição ruim das estradas, são os fatores 
determinantes para os acidentes aqui na região”
Afirma.













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