GUIAS

domingo, 30 de novembro de 2014

Um hermafrodita registrado como mulher luta por identidade masculina em BH-MG

Luan, como gosta de ser chamado, já foi preso 
ao mostrar documento com nome feminino


Além de não conseguir usar a certidão, 
ele não consegue fazer novos documentos

               Um hermafrodita que vive em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, foi registrado e criado como mulher, mas, aos 24 anos, ele luta pelo direito de usar um nome masculino. O único documento que tem é a certidão de nascimento que consta Luana José da Silva.

               Luan, como prefere ser identificado, foi preso aos 18 anos por falsidade ideológica ao mostrar a própria certidão de nascimento para policiais. Na delegacia, onde ficou durante uma semana, ele foi agredido e só conseguiu sair porque seu pai pagou a fiança.

               Além de não conseguir usar a certidão, ele não consegue fazer novos documentos. Sempre que vai até os órgãos responsáveis por expedir carteiras de identidade ou de trabalho e CPF Silva sai frustrado.

Eles [funcionários] olham para mim, 
não acreditam que sou eu 
e me mandam ir a outros lugares. 
Eu acabo me estressando e vou embora.

               Luan Silva tem uma síndrome rara que atinge uma em cada 15 mil pessoas. Ele possui todos os órgãos do aparelho reprodutor feminino mas, com o excesso de hormônio masculino provocado pela síndrome, desenvolveu um órgão similar a genitália masculina. Aos cinco anos, ele teve o órgão retirado cirurgicamente. Ele conta que lamenta ter passado pelo procedimento, pois sofreu muito preconceito.

Fizeram muito errado em me operar, 
porque eu conheço gente que nasceu hermafrodita 
e cresceu para escolher. Eu não tive essa oportunidade. 
Meus irmãos sempre me aceitaram 
e minha mãe nunca questionou nada, 
mas meus tios e meus avós não aceitavam. 
A humilhação sempre acontece, com piadinhas, por exemplo.

               Para o chefe de departamento de urologia em Minas Gerais, Otto Henrique Chaves, o procedimento cirúrgico foi tardio.

"Se essa criança já tem uma estrutura cerebral 
masculina e uma postura masculina, 
ela não deve retornar para o sexo feminino. 
Poderia ser conduzida, 
do ponto de vista cirúrgico, 
para ser um homem"


O sonho

               Sem dinheiro para pagar um advogado, Luan abriu um processo na Justiça para poder ser identificado como homem por meio da Defensoria Pública. A defensora Júnia Roman, que o representa, afirma que o caminho será longo.

"Há necessidade de diversas ações e procedimentos 
porque o problema de Luan é complicado. 
Tem questões de saúde que não são adequadamente tratadas. 
A retificação do nome é um primeiro conforto 
para ele não passar pelo constrangimento 
de ser chamado por um nome que não se reconhece"

               Luan atualmente trabalha como pedreiro e vive com sua mulher e um filho. Ele sonha em constituir uma família formalmente.

Quero casar, registrar meu filho,
poder comprar minha casa, 
trabalhar fichado para financiar um lote 
e construir minha casa. 
Quero uma vida normal. 
Não é querer demais. 
É direito meu.