GUIAS

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Cães-guias tem direito de ir e vir, inclusive de táxis, ônibus ou Metrôs

               Em meios à disputa entre motoristas do Uber e taxistas pelo direito de prestar serviço de condução de passageiro, Daniela Kovács, 36 anos, e seu cão guia Basher, 8 anos, foram impedidos de embarcar em um carro ligado ao aplicativo 99taxis na tarde chuvosa desta terça-feira (160127), em São Paulo.


               O condutor do veículo se recusou a levar o cachorro, cujo acesso a qualquer meio de locomoção público é garantido por lei, alegando que o animal "soltaria pelos" no estofamento.

"Expliquei a ele que o Basher é um cão de serviço, 
que recebe cuidados diários de limpeza 
e é teinado para se comportar, 
mas não adiantou"
               Afirma Daniela, que é chefe do setor de acessibilidade do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.

               Com deficiência visual desde a infância, ela afirma já ter enfrentado o constrangimento de ter seu acesso negado em táxis "diversas vezes", mas que sua tolerância "chegou ao limite".

               Segundo Daniela, ela tomou o cuidado de selecionar no aplicativo um motorista que declarava "aceitar animais", embora isso não seja necessário em caso de transporte de cães-guias.

               Esses animais são considerados instrumentos de acessibilidade, como uma cadeira de rodas, que devem ser transportados sem custo adicional e em qualquer veículo.

"Não podia garantir ao motorista que o Basher 
não soltaria pelos, afinal, ele é um cão. 
Taxistas parecem esquecer 
que prestam um serviço público, 
representam o Estado e precisam atender 
a todos de forma igual. 
Não levo um cachorro para cima 
e para baixo porque acho legal."

               Basher, da raça labrador, nasceu e foi trinado nos EUA. Está com Daniela há sete anos. Ela conseguiu o animal por meio da ação do Instituto Íris, que, com apoio de parcerias com a iniciativa privada, fornece os cães trabalhadores gratuitamente.

               Não há estatísticas oficiais sobre a quantidade de cães-guias no Brasil, mas as instituições especializadas estimam em menos de cem em todo o país, diante de uma população de 582.000 mil pessoas cegas, de acordo com o IBGE.


Discriminação
               Para a Deputada Federal Mara Gabrilli (PSDB-SP), relatora da Lei Brasileira de Inclusão - LBI, que entrou em vigor neste mês, o caso de Daniela pode ser enquadrado como discriminação à pessoa com deficiência e deve ser denunciado aos órgãos de direito.

"Tudo sempre cai na falta de informação, 
na falta de treinamento, na falta de qualificação 
e na falta de bom senso. 
Mas negar acesso a um cão-guia, 
pela nova lei, configura-se discriminação, 
afinal o que muitos taxistas não querem é sujar o carro. 
Eles tem uma concessão pública, 
precisam andar de acordo com a legislação", 
               Diz.

               Por temer ficar exposta a algum tipo de represália, Daniela pediu que o nome do profissional que negou a viagem não fosse divulgado.

"Uma situação dessas expõe demais uma pessoa cega. 
Tenho medo", 
               Afirma.


Bloqueio
               Por meio de nota, a 99táxis afirmou que "não corrobora" nem "aceita" a atitude do motorista envolvido no caso.

               A empresa informou que ele foi "bloqueado do aplicativo", o que o impedirá de atender pelo serviço.

               Ainda segundo a 99táxis, há frequente comunicação com os seus taxistas, "com objetivo de manter um alto padrão de atendimento".

               A empresa se comprometeu a promover uma campanha de conscientização "para reforçar que aceitar o cão guia não é opção, mas, sim, um dever cívico garantido pela legislação".

               O Sindicato dos Taxistas de São Paulo considerou o fato "Lamentável", digno de "Repúdio" e colocou-o como uma "exceção". 
               O órgão afirmou também que faz e fará iniciativas de conscientização dos profissionais.

               Ricardo Auriemma, presidente da Associação das Empresas de Táxi de São Paulo, disse que os motoristas participam de cursos e são devidamente informados de que é permitido o transporte de deficientes visuais com seus cães-guia no veículo.

"É um caso pontual, 
e atitudes semelhantes devem ser combatidas. 
Fazemos notificações frequentes para que as associadas 
alertem os novos motoristas".
Afirma.