Professores em Uberaba dizem que conteúdo
incita machismo e homofobia.
Político diz que é estímulo
a denúncias de desobediência da lei aprovada.
Com o objetivo de orientar pais e estudantes sobre a proibição das discussões de ideologias de gênero em escolas de Uberaba-MG, uma cartilha elaborada pelo vereador Samuel Pereira tem gerado insatisfação popular, principalmente entre profissionais da educação.
Na capa, o material explicita a frase “Ideologia de Gênero – Entenda o risco que você e seus filhos estavam correndo”.
A estratégia visa disseminar o que dita a lei orgânica do Município 083/2015, aprovada unanimemente em segundo turno, em novembro.
A aprovação em primeiro turno, no dia 21 de outubro, ocorreu mesmo com o parecer de inconstitucionalidade da Comissão de Justiça, Legislação e Redação da Casa, que foi derrubado pelos parlamentares.
A assistente social e mestra em Serviço Social, Ana Carolina Ros, compartilhou imagens da cartilha em rede social questionando a interferência do conteúdo na liberdade individual dos estudantes em um período de formação do senso crítico.
Ela, juntamente com a professora e mestra em educação Larissa Martins, defendem a ideia de o material ser uma “estratégia de campanha eleitoral”.
“A cartilha representa uma afronta
aos Direitos Humanos e à diversidade,
tanto sexual quanto de gênero.
Ela divulga uma emenda de lei aprovada
na Câmara Municipal que foi, inclusive,
considerada inconstitucional pela Comissão de Justiça, Legislação e Redação da Casa.
A Lei citada no panfleto partidário é absurda,
pois é contra os Direitos Humanos da liberdade
de expressão e opinião.
Educadores e alunos têm o direito de estabelecer relações educativas sobre qualquer temática para,
assim, formar seus próprios posicionamentos
e visões de mundo”
Argumentou.
De acordo com o autor do projeto a lei, a distribuição da cartilha ocorre desde o fim de maio e visa combater a desobediência da lei em escolas.
“Eu fiz poucas (cartilhas) e estamos entregando
a alguns pais para orientá-los,
pois eles não sabem o que é ideologia de gênero
e nem que o projeto foi aprovado.
A informação que chegou até nosso gabinete
é de que tem algumas escolas aplicando
a ideologia de gênero,
mas não conseguimos identificar quais são.
Estamos orientando os pais para que ajudem a fiscalizar”
Disse o parlamentar.
A jornalista Thereza Cristina compartilha da opinião das educadoras.
Ela destaca, ainda, que o material representa retrocesso em um período em que assuntos tratados como padrões comportamentais e sociais são discutidos visando a diversidade e o respeito.
“A cartilha representa uma afronta
à evolução da sociedade brasileira,
que apesar de todo o preconceito, homofobia,
machismo, misoginia, racismo, enfim,
todo tipo de preconceito teve um avanço nas leis, discussões neste sentido.
É um retrocesso claro, que não só o vereador Samuel impõe à nossa sociedade, como também toda a bancada evangélica, ruralista e da bala no âmbito nacional”
Argumentou.
Proposta educativa
O político afirmou que a elaboração do projeto ocorria desde o início de 2016 e que todo o processo de definir desenhos e frase visa somente educar a população de acordo com a lei em vigência no município.
“Os ativistas e LGBTs têm a forma de expressar
e analisar, mas a cartilha mostra que não é feita
para bater de frente,
ela é feita para orientar os pais e mães.
Questionamentos são normais em redes sociais,
telefones e até no gabinete isso já ocorreu.
Não tem mais discussões sobre o assunto,
pois já foi aprovada a lei.
Não estamos discutindo a parte homossexual,
estamos mostrando que a ideologia de gênero
nas escolas não deve ser aplicada”
Afirmou.
Extinção da cartilha
Para a jornalista Tereza Cristina o material, assim como a lei municipal, inibe a liberdade de expressão individual. Ela acredita que a fase que antecede a vida adulta é propícia para que uma educação não discriminatória seja exercida, além de minimizar os problemas impostos cultural e socialmente.
“Uma criança tem o direito de discutir isto
(liberdade de expressão) para não discriminar ninguém, e um menino que sente menina, e vice-versa,
tem o direito de escolher ser o que quer.
E somente através de orientação este processo
vai ser mais suave.
É um meio de levar o cidadão ao que todos buscamos:
a felicidade, independente do que a sociedade
‘estipula’ pra ele/ela”
Destacou.
Ainda na opinião de Ana Carolina e Larissa, o material tende a estimular a segregação e contribuir para o desrespeito e ódio a toda e qualquer diversidade.
Tais argumentos sustentam a opinião de que a cartilha deve ser extinta.
“A não divulgação deste material evita que o preconceito e a violência se propaguem ainda mais.
Esta cartilha afronta as diferenças de gêneros,
que devem ser respeitadas, dado o princípio constitucional da individualidade.
Este material pode construir uma geração de ódio
e desrespeito para o futuro da cidade,
contrariando o desenvolvimento que vem ocorrendo mundialmente pelo fim da homofobia
e da violência contra a mulher”
Ponderaram.