Luan, como gosta de ser chamado, já foi preso
ao mostrar documento com nome feminino
Além de não conseguir usar a certidão,
ele não consegue fazer novos documentos
Um hermafrodita que vive em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, foi registrado e criado como mulher, mas, aos 24 anos, ele luta pelo direito de usar um nome masculino. O único documento que tem é a certidão de nascimento que consta Luana José da Silva.
Luan, como prefere ser identificado, foi preso aos 18 anos por falsidade ideológica ao mostrar a própria certidão de nascimento para policiais. Na delegacia, onde ficou durante uma semana, ele foi agredido e só conseguiu sair porque seu pai pagou a fiança.
Além de não conseguir usar a certidão, ele não consegue fazer novos documentos. Sempre que vai até os órgãos responsáveis por expedir carteiras de identidade ou de trabalho e CPF Silva sai frustrado.
Eles [funcionários] olham para mim,
não acreditam que sou eu
e me mandam ir a outros lugares.
e me mandam ir a outros lugares.
Eu acabo me estressando e vou embora.
Luan Silva tem uma síndrome rara que atinge uma em cada 15 mil pessoas. Ele possui todos os órgãos do aparelho reprodutor feminino mas, com o excesso de hormônio masculino provocado pela síndrome, desenvolveu um órgão similar a genitália masculina. Aos cinco anos, ele teve o órgão retirado cirurgicamente. Ele conta que lamenta ter passado pelo procedimento, pois sofreu muito preconceito.
Fizeram muito errado em me operar,
porque eu conheço gente que nasceu hermafrodita
e cresceu para escolher. Eu não tive essa oportunidade.
Meus irmãos sempre me aceitaram
e minha mãe nunca questionou nada,
mas meus tios e meus avós não aceitavam.
A humilhação sempre acontece, com piadinhas, por exemplo.
Para o chefe de departamento de urologia em Minas Gerais, Otto Henrique Chaves, o procedimento cirúrgico foi tardio.
"Se essa criança já tem uma estrutura cerebral
masculina e uma postura masculina,
ela não deve retornar para o sexo feminino.
Poderia ser conduzida,
do ponto de vista cirúrgico,
para ser um homem"
O sonho
Sem dinheiro para pagar um advogado, Luan abriu um processo na Justiça para poder ser identificado como homem por meio da Defensoria Pública. A defensora Júnia Roman, que o representa, afirma que o caminho será longo.
"Há necessidade de diversas ações e procedimentos
porque o problema de Luan é complicado.
Tem questões de saúde que não são adequadamente tratadas.
A retificação do nome é um primeiro conforto
para ele não passar pelo constrangimento
de ser chamado por um nome que não se reconhece"
Luan atualmente trabalha como pedreiro e vive com sua mulher e um filho. Ele sonha em constituir uma família formalmente.
Quero casar, registrar meu filho,
poder comprar minha casa,
trabalhar fichado para financiar um lote
e construir minha casa.
Quero uma vida normal.
Não é querer demais.
É direito meu.
LINK PARA O VÍDEO: VEJA REPORTAGEM COM LUANA OU "LUAN" AQUI