O ex-prefeito de Unaí, Antério Mânica, é julgado em Belo Horizonte
Ele é acusado de ser mandante da execução de 4 servidores em 2004
O réu no processo da chacina de Unaí Hugo Alves Pimenta disse em depoimento nesta quarta-feira (151104), durante o júri popular do ex-prefeito Antério Mânica, que não tem conhecimento do envolvimento do político no crime. Mânica é julgado no Tribunal de Justiça Federal de Belo Horizonte, acusado de ser mandante da execução de três auditores do Ministério do Trabalho e de um motorista.
Em 28 de janeiro de 2004, os auditores fiscais Nelson José da Silva, João Batista Lages e Eratóstenes de Almeida Gonçalves e o motorista Ailton Pereira de Oliveira morreram em uma emboscada. Segundo a acusação, o ex-prefeito e o irmão Norberto Mânica, condenado a 100 anos pela chacina, teriam encomendado o crime, devido ao rigor das fiscalizações trabalhistas feitas por Nelson José da Silva. No mesmo ano, Mânica foi eleito pela primeira vez prefeito da cidade e chegou a ter dois mandatos.
O empresário Hugo Pimenta, que é considerado um mandante da chacina pelo Ministério Público Federal - MPF e vai a júri popular no dia 10 de novembro, tem um acordo de delação premiada. Ele prestou depoimento durante pouco mais de uma hora e disse não saber do envolvimento do ex-prefeito nas mortes. Para ele, o mandante do crime é o irmão Norberto.
Hugo Pimenta contou como tudo foi planejado entre Norberto Mânica e José Alberto de Castro, ambos condenados na semana passada a 100 e 96 anos, respectivamente. Ele contou que, por várias vezes, ouviu Norberto dizer que queria matar Nelson.
"O Norberto Mânica mandou matar todo mundo"
Disse.
Em um dos momentos em que citou o ex-prefeito, Pimenta disse que ouviu de Erinaldo Vasconcelos, outro acusado condenado por ser executor dos fiscais, que tinha um "homem bravo" dentro de um Fiat Marea e que ele era o Antério.
Este episódio narrado pela testemunha aconteceu na noite que antecedeu o crime. Segundo a acusação, um mandante em um Marea se encontrou com José Alberto de Castro em um posto de gasolina e autorizou matar não somente Nelson, mas toda a equipe. Apesar de relatar a conversa, Hugo Pimenta disse que não foi ao posto na noite em questão. O delator disse que tinha um Marea na época, mas era de cor prata, diferente do apontado pela acusação, que era, segundo investigação, de cor escura.
LIGAÇÃO PARA A DELEGACIA REGIONAL
Durante a manhã, o delegado de Polícia Civil Wagner Pinto, de Belo Horizonte, disse durante seu depoimento no júri que, no dia da morte dos fiscais, o fazendeiro ligou para a delegacia regional do Ministério do Trabalho em duas oportunidades. A primeira para perguntar se tais servidores haviam sido mortos e, a segunda, para confirmar que os quatro haviam morrido.
Apesar desta declaração, Wagner Pinto disse que durante o tempo em que trabalhou na cidade não verificou nenhuma prova de envolvimento de Antério com as mortes. Ele contou que foi destacado da capital para Unaí, mas precisou voltar seis meses depois, a pedido do superior.
Ainda segundo Wagner, com o andamento das investigações, verificou-se a existência de um Fiat Marea, de cor escura, em um posto de gasolina, na noite anterior ao crime. Pela investigação, este carro está envolvido na morte dos fiscais. A mulher de Antério Mânica tinha um carro do mesmo modelo à época do crime.
A mulher de Nelson José da Silva, Helba Soares da Silva, também contou que teve conhecimento das ligações de Antério Mânica para o Ministério do Trabalho para saber se os fiscais estavam mortos. Ela confirmou que o companheiro recebeu ameaças de morte durante a fiscalização. Segundo Helba, Nelson ouviu a frase "olha que objeto bom de enfiar na barriga de um preto", quando foi ameaçado. O objeto em questão é um chuço usado para furar sacas de feijão. Ela contou que ele tinha medo de ser morto e que estava pensando em se aposentar.
O julgamento de Antério Mânica tem o conselho de sentença formado por seis mulheres e um homem. A previsão era que 18 testemunhas de acusação e seis de defesa fossem ouvidas, mas duas pessoas que prestariam depoimento pelo Ministério Público Federal foram dispensadas. Segundo a Justiça Federal, a previsão é que o júri dure três dias.