De acordo com um artigo publicado na revista Cell, cientistas conseguiram, pela primeira vez, identificar o mecanismo que faz o cérebro ativar as células adiposas do corpo humano, fazendo com que a gordura seja utilizada como fonte de energia.
Representando até 25% do peso corporal, as células do tecido adiposo possuem triglicéridos, que quando não abastecidos com alimentos, são responsáveis por fornecer energia e queimar a gordura. Por isso quando deixamos de comer em excesso, emagrecemos e alteramos os níveis de triglicéridos.
A leptina, conhecida como “hormônio da saciedade”, é responsável por esse equilíbrio de energia – fazendo conexão com o hipotálamo, no cérebro -, mantendo o peso saudável. O aumento dos níveis de leptina diminui o apetite e estimula a utilização das reservas de gordura do corpo. Quando os níveis de leptina diminuem, o cérebro causa a “fome”, que nada mais é do que um alerta para ingerir alimentos.
Este processo foi descoberto na década de 90, dando esperança no combate à obesidade, mas os cientistas esbarraram no fato de que os cérebros de obesos, em grande parte, não conseguem distinguir bem entre os níveis de leptina. Mesmo com níveis enormes, eles não parariam de comer. “A resistência central à leptina é uma condição que impede que o cérebro identifique o hormônio. É muito comum”, disse Ana Domingos, do Instituto Gulbenkian de Ciência - IGC, em Oeiras Portugal, responsável pela descoberta em parceria com membros da Universidade Rockefeller, nos EUA. Eles descobriram o bloqueio, tornando possível contornar a resistência à leptina com o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes.
O que o grupo descobriu foi justamente o mecanismo que faz as células do cérebro enviarem sinais às células adiposas, dando a “ordem” de queimar gordura, dependendo dos níveis de leptina.
“Os antigos métodos não permitiam distinguir os entre neurônios que apenas atravessam o tecido adiposo e que se projetam diretamente nos adipócitos”, explicaram os pesquisadores, que agora juntaram várias técnicas recentes para análise detalhada do tecido adiposo, com replicações em ratos, descobrindo a ligação com o “sistema nervoso simpático”, que controla o equilíbrio fisiológico do corpo.
Estas fibras nervosas ligadas ao sistema nervoso também poderiam induzir a degradação das gorduras, por conta da norepinefrina – hormônio e neurotransmissor que é estimulado pelos neurônios para conduzir à lipólise – que causa a degradação das gorduras nas células adiposas.
“Há cerca de meio século sabe-se que a norepinefrina é um gatilho da degradação das gorduras, mas não se sabia de onde ela vinha, porque ela também é liberada pelas glândulas adrenais, que não estão envolvidas nos processos de perda de peso. A ação que ativa a lipólise é local e não sistêmica”
Concluiu Ana.