Maior lago de sal do mundo é único ponto brilhante visto do espaço
Uyuni, na Bolívia, foi confundido com geleiras por primeiros astronautas. Combinação de luz do sol, sal e calor provoca ilusões nos visitantes.
Sob o céu de um azul intenso, há um deserto enorme todo branco, uma lagoa cor de sangue, estradas lindas e perigosas, árvores de pedras e montanhas que tocam as nuvens.
A viagem começa pelo deserto de Siloli, no sudoeste da Bolívia. Vamos ao encontro de um lugar onde a natureza mostra toda a sua adversidade: a temperatura varia de negativa ao amanhecer e pode passar facilmente dos 30 graus ao meio dia. É um lugar de extremos: sol forte e clima ultra seco. Às vezes, parece que falta ar para respirarmos.
Na estrada desenhada pelo vai e vem dos jipes, há muito pó. Mas o céu é tão limpo que é possível ver claramente os picos nevados das montanhas da cordilheira. É um inquietante, porque, no meio de um silêncio quase absoluto, podemos ouvir o som da terra. No altiplano boliviano, a paisagem é fora do comum.
É impossível não suspirar e se espantar com o inusitado - uma lagoa feita de água vermelha. Parece inacreditável o que os olhos veem, porque tudo é um espetáculo surpreendente: a cor da água, os flamingos e as montanhas ao redor.
Nas águas rasas, entre o doce e o salgado, a cor muda de intensidade durante o dia. Ela é vermelha por causa das algas microscópicas que produzem caroteno para se proteger da forte radiação ultravioleta. O vermelho contrasta com a borda branca, feita do mineral bórax, e com o dourado do capim nativo que cresce conforme o vento. E é assim que a laguna colorada se espalha por 60 quilômetros quadrados entre montanhas e vulcões.
E como se fosse para deixar tudo ainda mais lindo, centenas de flamingos passam o verão na laguna colorada. Há uma troca: a lagoa oferece um banquete para os flamingos e eles ajudam a compor uma imagem que ninguém não cansa de olhar. E ainda dão show. Em grupos, realizam uma espécie de dança. Os flamingos são uma das 80 espécies de aves que vivem por estas alturas.
A Bolívia é um dos poucos países da América do Sul que não tem acesso ao mar. Em compensação, há lagoas de todos os tamanhos espalhadas pelo altiplano.
A equipe do Globo Repórter chegou a 4,1 mil metros de altitude. Lá, flamingos selvagens ficam bem perto, sem medo das pessoas e sem fugir. Parecem estar lá para exibir a linda plumagem cor de rosa. Eles ignoram os visitantes. Importa a comida abundante que encontram na lagoa Hedionda, o banho de sol, o caminhar e o bater de asas.
Nem todas as lagoas têm água boa. Aos pés do imponente vulcão Licancabur, que tem quase seis mil metros de altura, fica a lagoa verde com seus 17 quilômetros quadrados. Ela tem arsênico e cobre e, por isso, nenhuma vida. Dependendo da época do ano, ela fica verde esmeralda, contrastando com a lagoa branca.
Além das lagoas coloridas, o altiplano boliviano abriga uma das paisagens mais surpreendentes do nosso continente: um deserto todo o branco, feito de sal.
Não tem pássaros, não tem árvores e não tem nenhum tipo de vegetação. Não tem nada, mas é um nada simplesmente lindo. E quando se olha para o horizonte, onde o céu encontra o sal, o homem se sente pequeno diante dessa imensidão que impressiona.
O Uyuni, a 3,75 mil metros de altitude, é o mais alto e o maior lago de sal do mundo. Ele tem 12 mil quilômetros quadrados. Parece neve, mas não é gelado. É salgado, muito salgado.
Ao contrário do que se pode pensar, o lugar não foi um oceano, mas o que sobrou do Minchin, um gigantesco lago pré-histórico que teve suas águas salgadas evaporadas. O Salar de Uyuni é o único ponto natural brilhante que pode ser visto do espaço. Ele serviu de guia para os astronautas da Apolo 11, que chegaram à lua em 1969. Quando os astronautas viram a planície branca pela primeira vez, chegaram a pensar que fosse uma geleira.
O salar brinca com as impressões dos visitantes. A combinação da luz do sol com o sal e o calor provoca ilusões. As montanhas parecem suspensas entre o céu e o salar. E os carros, conforme se afastam, parecem flutuar.
É tão curioso quanto as pequenas ilhas que ficam próximas às margens. Elas são formadas por pedras, restos de corais, conchas e rodeadas de sal. No meio do salar, existem muitas ilhas, algumas oásis onde a vida cresce lentamente, mas grandiosa, como em uma floresta de cactos. Eles aumentam cerca de um centímetro por ano e, pelo tamanho, alguns têm mais de mil anos.
A Ilha Incahuasi, que significa a casa do rei na língua quéchua dos índios bolivianos, parece uma praia de sal. A Incahuasi tem um quilômetro quadrado. No meio dela, uma trilha traçada entre mais de 6 mil cactos que nascem entre as rochas. Alguns, enfeitados com flores delicadas, tocadas apenas pelo vento.
Nas ilhas, vivem pequenos insetos, escorpiões e pássaros que aprenderam a se equilibrar nos espinhos. Além de cactos a vegetação também é feita de plantinhas com folhas e flores bem perfumadas.
O silêncio só é quebrado pelo som das abelhas recolhendo néctar. E todos os dias, as ilhas são mirantes naturais de onde se pode contemplar um espetáculo cor de ouro: o sol se pondo no salar. É um momento tão lindo, mas tão lindo, que o visitante tem vontade de ficar.
É impressionante a paisagem mestiça entre o rude e o belo, onde lhamas e vicunhas buscam alimentos ao redor de montanhas e de lagoas coloridas. As vicunhas são selvagens, não deixam as pessoas chegarem perto de jeito nenhum, são menores e têm sempre as mesmas cores: branco e caramelo.
As lhamas têm pelagem variada e os bolivianos adoram enfeitar as orelhas delas com pedaços de tecidos. A interferência parece estranha num primeiro olhar, afinal, todo esse lugar está praticamente do mesmo jeito que a natureza criou, há milhões de anos. E as lhamas desfilam por aqui há muito tempo. Vivem em bandos. A líder segue na frente, sempre alerta.
Elas são essenciais para quem vive em um lugar árido, pois fornecem carne e lã para os moradores. Em um tempo distante, também serviram de meio de transporte, as caravanas de lhamas.
Só que esta história se passa nas alturas de Tilcara, na Argentina, país que faz fronteira com a Bolívia. Na verdade, falar em fronteira é pura convenção. De um lado ou de outro, a paisagem e a cultura se repetem.
A equipe seguiu por uma estrada feita de curvas extremamente perigosas, a Rota 52. Às vezes, só de olhar pro lado, dá medo. Precipícios e paredões enormes surgem repentinamente. Florestas de cactos desafiam a gravidade e se equilibram nas alturas.
A viagem continua em um sobe e desce sobre montanhas que variam de 2,3 mil a 4,2 mil metros de altitude, um visual de tirar o fôlego. Não por causa da altura, mas pela visão que se tem do caminho. É justamente por ser assustadoramente desafiante que a Rota 52 é considerada uma das rodovias mais lindas do mundo.
No fim da estrada, em Tilcara, na Argentina, cidade com 12 mil habitantes, vive um homem apaixonado por lhamas que costuma se comunicar com elas. É lindo de ver como Santos Manfredi, de 43 anos, lidera o rebanho. "Esses são animais que entendem através do coração. Por um lado, sou um líder, por outro lado, sou um par, um irmão que lhes da comida, que cuida, que os leva a passear pela montanha. Se eles não quisessem sair seria um alerta, mas eles desfrutam de caminhar pelas montanhas. É algo milenar. A gente é apenas o cuidador deles", diz.
Manfredi, que acredita ter a missão de resgatar a função da lhama há muito esquecida (carga e caminhada), convida a equipe para um desses passeios, um piquenique. Mas antes, em respeito às crenças da cultura andina, há um pequeno ritual que é preciso seguir.
No passado, os índios acreditavam que mascar folhas de coca espantava os maus espíritos. Hoje, ela ajuda no processo de aclimatação, a mais de 3,5 mil metros de altitude. A única reação que ela produz é metabólica: aumenta a resistência.
As lhamas são animais pequenos, pesam no máximo 150 quilos e podem carregar até 30 quilos. Para o nosso passeio, levam comida e tapetes para sentar. E assim a equipe segue, em uma pequena caravana pelas estradinhas simpáticas da região.
A caravana de lhamas é o sonho realizado de Manfredi e é conhecida em toda a região. Depois de duas horas de caminhada, a equipe chega ao local do piquenique. Enquanto Santos prepara a comida e arruma as lhamas, a equipe pensa sobre a felicidade que habita tudo isso.
Quantas surpresas é possível encontrar na região noroeste da Argentina. A paisagem feita de cactos, desertos e montanhas, se comparada ao resto do país, parece outra Argentina. A 25 quilômetros de Tilcara, a terra da caravana de lhamas, fica Purmamarca, um vilarejo com pouco mais de mil habitantes. Um lugar tão lindo e tão colorido que o visitante não cansa de admirar. As cores frequentemente são encontradas em toda a região, mas só lá aparecem todas juntas. É o Cerro de los Siete Colores.
As montanhas foram sendo coloridas ao longo de milhões de anos, quando toda a região ainda era um mar. O cinza e o verde são as cores mais antigas, surgiram há 600 milhões de anos. O toque vermelho foi dado pela natureza há menos tempo: 20 milhões de anos. No meio delas, tons pastéis abusam. Tem cor de rosa, amarelo, branco, violeta e uma infinidade de variações. É um território único, dono de uma paisagem singular, tão grandiosa e bela que explica porque os habitantes andinos reverenciam Pachamama, a mãe natureza.
Wallpapper's de Uyuni - Bolívia e os Geiser's
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