Apesar da proibição por lei, as tribos do país continuam com a prática
Em muitas tribos africanas, a mutilação genital é comum para jovens meninas na fase de transição para a vida adulta. O procedimento inclui a remoção parcial ou total dos órgãos genitais externos, além da costura da vagina. Dessa forma, seguindo os ensinamentos dos ancestrais, as tribos acreditam que a mulher tenha o desejo sexual reduzido, e que isso colabore para que a honra da família não seja manchada.
Nuas e cobertas apenas com uma capa feita de pele de animal, as meninas são levadas pelas próprias famílias para o ritual.
De acordo com o fotógrafo, a mutilação é motivo de orgulho para os pais. Uma das mães, disse que acreditava que a dor faria a filha mais forte.
"Ela pode mostrar ao resto da comunidade
que ela pode suportar isso"
Proibida desde 2011, a mutilação genital já foi feita em cerca de 25% das mulheres quenianas. Apesar dos esforços do governo em acabar com a prática no leste africano, os entrevistados pelo fotógrafo confirmaram que ainda existem muitos casos dentro das tribos.
"É uma tradição que vem acontecendo sempre"
Disse o pai de uma das meninas, que pediu para não ser identificado, com medo de represálias.
"As meninas são mutiladas para se casar,
É a transição de uma menina para mulher"
Famílias inteiras participam do ritual, apesar de só mulheres assistirem ao ato da mutilação. Durante os dias que antecedem o procedimento, as pessoas fazem uma verdadeira festa, com danças e comidas típicas.
De acordo com Modola, muitos ficam embriagados durante a cerimônia.
Mas as meninas permanecem assustadas por saber que, em seguida, vão enfrentar um doloroso procedimento.
Segundo o fotógrafo, que acompanhou um dos rituais, qualquer objeto cortante, como lâminas de barbear, tesoura ou vidros pontiagudos, podem ser utilizados no procedimento.
No dia em que Modola estava na tribo, a mulher responsável pela mutilação usou uma lâmina de barbear.
As mulheres auxiliam na montagem do local do ritual. Elas carregam grandes e pesadas pedras, que são utilizadas como assentos para as jovens meninas.
Para essas pessoas, a cerimônia de mutilação faz parte de um momento de transição na vida das jovens e é extremamente necessária.
As meninas ficam sentadas nas pedras, enquanto aguardam a mulher que fará a remoção dos órgãos genitais externos.
A Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) diz que mais de 125 milhões de mulheres já foram submetidas à prática em 29 países da África e do Oriente Médio, onde há maior incidência de casos.
A lei queniana prevê prisão perpétua para os responsáveis pela mutilação em caso de morte da vítima. Além da dor quase insuportável, o ato pode causar hemorragias, choques psicológicos e complicações futuras na vida sexual da mulher e o parto, para as que serão mães.
Isso acontece porque os objetos utilizados não são esterilizados.
O Quênia criou uma unidade de acusação e investiga 50 casos já denunciados. Os funcionários estão otimistas, acreditando que há a possibilidade de que as pessoas deixem a prática, entretanto, temem que o pensamento sobre o assunto já esteja muito presente na mente e história das tribos.
Christine Nanjala, dirigente do centro de acusações, acredita que a mutilação será exterminada.
"Não amanhã, mas isso vai acabar.
Se a gente chega ao fim do dia sem esperanças,
a gente acha que nosso trabalho é em vão"
Diz.
Madolo captou a expressão no rosto das meninas já mutiladas.
Durante o procedimento, algumas meninas não resistem a dor e desmaiam. Elas são amparadas por outras mulheres, inclusive suas mães, que incentivam o ritual.
As Nações Unidas estimam que, na próxima década, mais de 30 milhões de mulheres passarão pelo processo de mutilação.
Após o ritual, as meninas são pintadas com uma tinta branca, que indica que a mutilação foi realizada e que a partir de então, a jovem está pronta para o casamento.
Ao fim do dia e da cerimônia, as mulheres da tribo Pokot finalmente podem descansar, enquanto se aquecem com uma fogueira.
No dia seguinte, outras jovens moças serão mutiladas pelas mulheres mais velhas.