Anorexia nervosa
A anorexia nervosa afeta primariamente adolescentes, sendo cerca de 90% do sexo feminino, sendo cerca de 40% dos casos entre adolescentes. Cerca de 1 em cada 300 habitantes de países desenvolvidos já foram diagnosticados com anorexia.
Causas
Episódios de anorexia costumam durar cerca de 1,7 anos e de 5 a 20% dos anoréxicos morrem em decorrência do transtorno, sendo que quanto mais longo o episódio e menor o IMC, maiores os riscos de morte.
Em 2008 anorexígenos estavam entre os remédios mais usados no Brasil.
Modelos, atrizes, cantoras, atletas e dançarinas são mais vulneráveis ao transtorno.
Diversos casos de personalidades famosas vítimas de anorexia foram relatados nos últimos anos.
Tem sido enfatizada, em debates populares, a importância da mídia para o desenvolvimento de desordens como anorexia e bulimia, por alegadamente promover ela uma identificação da beleza com padrões físicos de magreza acentuada. Qualquer papel a ser exercido pela cultura de massa na promoção dessas desordens, no entanto, está ainda para ser demonstrado. Na busca da etiologia de perturbações da saúde mental, inclusive da anorexia nervosa, comumente são procuradas causas de ordem intrapsíquico, ambiental e genético.
Até agora, os seguintes fatos têm emergido na busca das causas desse transtorno:
Causas genéticas:
Estudos sobre desenvolvimento de transtornos alimentares envolvendo irmãs gêmeas têm sugerido um fundo genético para o desenvolvimento da anorexia.
Pais e mães de pacientes diagnosticadas com essa desordem possuem, relativamente a grupos de comparação da população não seleta, níveis mais elevados de perfeccionismo e preocupação com a forma física.
Características sociopsíquicas de anoréxicas:
Independentemente do subtipo de anorexia desenvolvida, restritiva ou purgativa, anoréxicas possuem, relativamente a pessoas saudáveis de sua idade e sexo, uma incidência maior de transtornos da ansiedade (especialmente o transtorno obsessivo-compulsivo) e do humor.
Níveis exageradamente elevados de perfeccionismo (busca por padrões de conquista e realizações notavelmente altos, necessidade de controle, intolerância a "falhas" ou "imperfeições") são comuns, e mesmo centrais, no desenvolvimento da anorexia. A presença dessa busca por padrões de perfeição transcende o desenvolvimento da doença, sendo anterior a ela e permanecendo em pacientes que já foram curadas da doença. Alguns estudos sugerem que, apesar de uma inteligência média na faixa regular, anoréxicas possuem níveis mais altos de performance escolar e envolvimento acadêmico, o que sugere que o perfeccionismo nelas presente não se limita a temas relacionados apenas com comida e forma corporal.
Outros traços obsessivos-compulsivos, além do perfeccionismo, são notados na infância de anoréxicas, principalmente inflexibilidade, forte adesão a regras estabelecidas, observação dos padrões mantidos por autoridades, etc.
Incidência de abuso físico ou sexual é mais elevada em grupos de anoréxicos; em um estudo efetivado na América do Norte, a presença de um histórico de abuso sexual na infância apresentou uma forte associação com o desenvolvimento de transtornos alimentares em grupos de homens homossexuais.
Predisposição
No Brasil, cerca de 21-22% das mulheres entre 15 e 25 anos possuem sintomas, e consequentemente risco maior, de desenvolver anorexia. Dentre os principais sintomas identificados estão a recusa em se alimentar, insatisfação com o próprio corpo, atraso na menstruação, uso de diuréticos, laxantes, anorexígenos, eméticos, abuso de cigarro ou álcool, forçar vômito e preocupação obsessiva com a alimentação.
Anorexia e bulimia
Uma pessoa anoréxica pode ser também bulímica. A anorexia está mais associada a traços ansiosos e obsessivos como perfeccionismo, enquanto a bulimia está associada a traços depressivos e baixa auto-estima.
Em Portugal, a prevalência foi de 4 em cada 1000 habitantes (0,4%), sendo mais comum aos 19 anos, mas com 12,5% da população apresentando mais de dois sintomas de anorexia e 7% possuindo uma auto-imagem corporal distorcida. Esse índice é menor que de outros países desenvolvidos, mas ainda bastante sério pelo alto risco de mortalidade (5 a 20%) desse transtorno.
Sintomas
Diagnóstico
Durante os exames é importante descartar primeiro outras possíveis causas para perda de peso, como problemas endócrinos, intestinais ou outros transtornos psicológicos. Dentre os exames usados para diagnosticar a anorexia estão:
- Albumina
- Exame de densidade óssea para verificar se há ossos finos (osteoporose)
- Hemograma completo
- Eletrocardiograma (ECG)
- Eletrólitos
- Testes de funcionamento dos rins
- Testes da função hepática
- Proteína total
- Testes de funcionamento da tireoide
- Urinálise
Além disso existem testes psicológicos associados a entrevistas com um psicólogo para identificar o caso e os transtornos associados.
Tratamento
Deve-se ter duas vertentes, a não-farmacológica e a farmacológica. Entretanto deve-se ter em mente a importância de uma relação médico-paciente satisfatória,uma vez que a negação pelo paciente é muitas vezes presente. Dependendo da gravidade do paciente pode-se pensar em internação para restabelecimento da saúde. Correção de possíveis alterações metabólicas e um plano alimentar bem definido são fundamentais.
Tratamento farmacológico
A vocalista do The Carpenters, Karen Carpenter, faleceu subitamente em 1983 em decorrência da anorexia.
Medicamentos usados no tratamento da depressão e da ansiedade como fluoxetina e topiramato tem mostrado resultados moderados em transtornos alimentares, provavelmente por tratar os pensamentos obsessivos e compulsivos, baixa auto-estima, instabilidade e estresse que frequentemente estão associados ao quadro de anorexia. Outra opção é a olanzapina, remédio para transtorno bipolar pelo seu efeito como estabilizante de humor.
Em relação a abordagem farmacológico tem-se utilizado principalmente os antidepressivos, mas que é uma área que carece de muitos resultados satisfatórios tendo em vista a multicausalidade da doença e a resistência dos pacientes. Dessa forma, é importante uma abordagem multidisciplinar, apoio da família e aderência do paciente. É comum os pacientes abandonarem os medicamentos que os façam reter líquidos e/ou aumentem o apetite, e esses são efeitos colaterais possíveis para grande parte dos remédios psiquiátricos. Antidepressivos e estabilizantes de humor podem também ter o efeito contrário, causando perda do apetite e de massa corporal, agravando ainda mais a anorexia ao invés de ajudar.
Mesmo sendo o tratamento medicamentoso da anorexia nervosa pouco eficiente, continua sendo útil para tratar os sintomas relacionados (ansiedade, pensamentos obsessivos e mau humor) e para prevenir recaídas.
Psicoterapia
Prognóstico
Mesmo com tratamento cerca de 30% dos pacientes voltam a desenvolver anorexia em menos de 5 anos. Mesmo nesses casos o tratamento é útil para melhorar a saúde geral de 76% dos pacientes. Em 42 pesquisas, cerca de 6% dos pacientes com anorexia morreram antes da conclusão dos estudos em decorrência de problemas relacionados ao distúrbio alimentar como cardiotoxicidade.
Fotos: 04.