Acusado de intermediar mortes, Hugo Pimenta é o último réu a ser julgado
Os irmãos Antério e Norberto Mânica foram condenados como mandantes
O segundo dia do julgamento do empresário Hugo Alves Pimenta, acusado de intermediar as mortes da CHACINA DE UNAÍ, começou nesta quarta-feira (151111), em Belo Horizonte, e a previsão é de que Pimenta seja interrogado e o júri, finalizado.
Réu delator, ele é o último a ser julgado neste caso, que aconteceu na Região Noroeste de Minas Gerais.
Em janeiro de 2004, quatro funcionários do Ministério do Trabalho e Emprego foram mortos por pistoleiros, quando investigavam denúncia de trabalho escravo em fazendas da região.
Para o advogado do réu, Lúcio Adolfo, a participação de Pimenta no crime é de menor importância e, por isso, espera que a pena seja mais leve porque ele foi o delator do caso. "A participação do Hugo é diferenciada. Ela é de menor importância. Basta dizer que o William foi lá, estava presente, recebeu o dinheiro, reconheceu a menor importância. É claro o reconhecimento pela colaboração que ele prestou", defendeu. William Gomes de Miranda foi condenado em 2013 a 56 anos de prisão.
Mas o procurador da República, Hebert Mesquita, não tem a mesma opinião. "Hugo é o elo. Digamos que os mandantes eram a cabeça, os intermediários fossem o corpo, os pistoleiros os membros. O Hugo foi o pescoço... tornaram fato", disse.
Os irmãos Antério e Norberto Mânica foram condenados como mandantes da chacina a 100 anos de cadeia, cada um. Por serem réus primários, Antério, ex-prefeito de Unaí, e o fazendeiro Norberto vão recorrer em liberdade. Os pistoleiros que executaram os fiscais foram condenados a penas que, somadas, chegam a mais de 220 anos de prisão.
O julgamento de Pimenta é realizado no Tribunal do Júri Federal, na capital mineira, e o Conselho de Sentença foi composto por quatro mulheres e três homens, responsável por dar o veredicto de culpado ou inocente.
Apesar da amizade que tinha com os mandantes da chacina, o empresário fez um acordo de delação com a Justiça em 2007 e foi arrolado como testemunha de acusação. Com isso, ganhou o direto à liberdade provisória e também à redução em dois terços da pena, caso seja condenado. Ele teve o julgamento adiado, após um pedido da defesa, que argumentou que o réu não poderia ser julgado no mesmo júri em que também participaria como testemunha.
Durante o júri de Norberto, Pimenta reafirmou que o fazendeiro foi o mandante do crime. O empresário contou em detalhes a versão dele, desde as conversas e a decisão de contratar pistoleiros para matar o fiscal. Ao longo do depoimento, as defesas do fazendeiro e de José Alberto de Castro apontaram supostas contradições entre a fala de Pimenta no Tribunal do Júri e nos registros do acordo de delação, tentando por em xeque o acordo de colaboração.
Já no julgamento de Antério Mânica, o empresário disse que não presenciou o suposto envolvimento do político no crime. No processo, Hugo Pimenta é acusado de ser intermediário na contratação dos pistoleiros. Ele vai responder pelos crimes de quádruplo homicídio. Durante o julgamento serão ouvidas cerca de 25 testemunhas.
A CHACINA
Em 28 de janeiro de 2004, os auditores fiscais do Ministério do Trabalho Nélson José da Silva, João Batista Soares Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, e o motorista Aílton Pereira de Oliveira foram assassinados em Unaí-MG, na Região Noroeste de Minas Gerais. Eles investigavam denúncias de trabalho escravo na região.
O episódio ficou conhecido como A CHACINA DE UNAÍ.
O processo tinha nove réus, mas Francisco Elder Pinheiro, acusado de ter contratado os matadores, morreu há dois anos e Humberto Ribeiro dos Santos, segundo a defesa, teve a pena prescrita.
Na última semana, o ex-prefeito de Unaí Antério Mânica foi condenado como mandante da chacina. O réu recebeu a pena de 100 anos de prisão. Em outubro, o irmão dele, o fazendeiro Norberto Mânica foi considerado culpado como mandante pela chacina e recebeu a pena de 100 anos de reclusão pelos homicídios. No mesmo julgamento, que durou quatro dias, também foi condenado empresário José Alberto de Castro. Ele pegou 96 anos de prisão pela acusação de ter sido intermediário entre os mandantes e os executores do crime.
Em 2013, outros três réus, envolvidos na execução, já haviam sido condenados.
Rogério Alan Rocha Rios pegou 94 anos de prisão; Erinaldo de Vasconcelos Silva, 76 anos e 20 dias; e William Gomes de Miranda, 56 anos.
Ao todo, as penas somam 226 anos.