Adolescentes que fumam maconha por apenas três anos
podem ter sérios danos em sua memória,
de longo prazo, alertam os pesquisadores
Os participantes de um estudo que usaram a droga diariamente, por cerca de três anos na adolescência, tiveram uma formação anormal no hipocampo - uma região do cérebro vital para a memória - em comparação à idade que tinham. Eles também ficaram cerca de 18% piores em testes de memória a longo prazo, em relação a indivíduos que nunca haviam consumido a droga.
Os resultados foram descobertos usando sofisticados escaneamentos para criar um mapa cerebral, realizado em dois anos depois que pararam de fumar maconha. O professor John Csernansky, da Universidade Northwestern, nos EUA, que co-liderou a pesquisa, disse: "Os processos de memória que parecem ser afetados pela Cannabis sativa são as que usamos todos os dias para resolver problemas comuns e para sustentar os nossos relacionamentos com amigos e família".
O estudo é um dos primeiros a sugerir a relação da droga com uma formação diferente no campo de memória cerebral. Quanto mais tempo um participante havia sido exposto a maconha, mais disforme seu hipocampo apareceu nos exames. Isto poderia significar que regiões do cérebro relacionadas com a memória podem ser mais susceptíveis aos efeitos da droga ao longo do tempo, caso haja abuso da substância.
No total, 97 pessoas participaram do estudo, incluindo alguns que começaram a fumar maconha diariamente entre os 16 e 17 anos, e continuaram por cerca de três anos. Na época do estudo, eles estavam livres da substância há cerca de dois anos.
"Ferramentas de mapeamento do cérebro avançadas nos permitiram examinar as mudanças detalhadas e, por vezes, sutis em pequenas estruturas do cérebro”, disse Lei Wang, autor sênior do estudo e professor assistente de psiquiatria e ciências comportamentais na universidade.
O estudo também descobriu que jovens adultos com esquizofrenia, que abusaram de maconha na adolescência, pioraram nos testes de memória, 26% a mais do que jovens adultos com esquizofrenia que nunca fumaram a droga.
Uma pesquisa anterior da mesma equipe, relacionou o uso da droga em curto prazo com desempenho da memória de trabalho com anormalidades de outras três regiões do cérebro: o estriado, globo pálido e tálamo.
"Ambos os nossos estudos recentes vinculam o uso crônico de maconha durante a adolescência a estas diferenças na forma de regiões do cérebro que são críticas para a memória e que parecem durar pelo menos alguns anos depois das pessoas pararem de usá-la. É possível que as estruturas cerebrais anormais revelem uma vulnerabilidade pré-existente ao abuso de maconha. Mas as evidências de que quanto mais os participantes abusavam da droga, maiores são as diferenças no formato do hipocampo, o que sugere que a maconha pode ser a causa”, explicou Matthew Smith, co-autor do estudo, publicado na revista Hippocampus.