O Julgamento do Mensalão
STF livra mensaleiros do crime de quadrilha
Com votos de seis ministros, a corte livrou oito condenados da pena por formação de quadrilha, entre eles o trio petista Dirceu, Delúbio e Genoino
“É uma tarde triste para o STF porque, com argumentos pífios,
foi reformada, foi jogada por terra,
extirpada do mundo jurídico uma decisão plenária sólida
e extremamente bem fundamentada
que foi aquela tomada por este plenário em 2012"
Afirma Joaquim Barbosa.
O Supremo Tribunal Federal - STF decidiu nesta quinta-feira livrar oito réus da condenação por formação de quadrilha. Por 6 votos a 5, a corte aceitou os embargos infringentes e derrubou as condenações por esse crime. Com isso, José Dirceu e Delúbio Soares escaparam do cumprimento de pena em regime fechado. José Genoino, que já estava livre do regime fechado, também teve a pena diminuída.
Na prática, o tribunal revisou o que havia decidido na etapa inicial do julgamento. Nessa guinada, foram decisivos os votos dos ministros novatos, que não estavam presentes na primeira fase do processo: Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso.
O efeito prático da sentença foi este: a pena de José Dirceu cai de 10 anos e 10 meses de prisão para 7 anos e 11 meses. A de Genoino, de 6 anos e 11 meses para 4 anos e 8 meses. A de Delúbio, de 8 anos e 11 meses para 6 anos e 8 meses.
Os publicitários Marcos Valério, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz e os ex-banqueiros e Kátia Rabello e José Roberto Salgado também foram beneficiados pela decisão do tribunal. Mas, como haviam recebido penas mais elevadas, continuam em regime fechado de prisão.
O STF fez jornada dupla nesta quinta-feira para concluir o julgamento iniciado em 2 de agosto de 2012: a sessão, que normalmente se inicia às 14 hs, começou pouco depois das 10 hs e se estenderá pela tarde após uma pausa para almoço.
Votos
Na sessão desta quinta, cinco ministros votaram, três deles a favor dos réus. Na abertura da sessão desta quinta, o ministro Teori Zavascki deu mais um voto pela aceitação dos embargos infringentes para o crime de formação de quadrilha.
"É difícil afirmar, por exemplo,
que José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil,
ou José Genoíno, dirigente partidário,
tivessem se unido a outros agentes, com o objetivo
e o interesse comum de praticar crimes
contra o sistema financeiro nacional
ou de lavagem de dinheiro"
disse Zavascki.
O voto que deu maioria a favor dos mensaleiros foi o de Rosa Weber. Ela argumentou que não há provas suficientes de que os réus associaram-se com a finalidade específica de cometer crimes:
"Há diferença marcante entre pessoas que se associam
para cometer crimes e pessoas que se associam com outra finalidade,
mas que no âmbito dessa associação cometem crimes"
afirmou a ministra.
No primeiro caso, complementou, trata-se de formação de quadrilha. No segundo caso, são crimes praticados em concurso de agentes.
Já com a maioria formada, o ministro Gilmar Mendes apresentou um voto enfático pela condenação por formação de quadrilha: "Houve a formatação de uma engrenagem ilícita que atendeu a todos e a cada um". O ministro Marco Aurélio Mello apresentou um voto contrário aos embargos, mas reduzindo a pena.
Em um voto memorável, Celso de Mello respondeu aos constantes ataques dos mensaleiros condenados, que tratam o julgamento como uma farsa.
"É nessa sucessão organizada de golpes criminosos
que reside a maior farsa da história política brasileira.
E isso, para vergonha de todos nós e grave ofensa
ao sentimento de decência dos cidadãos honestos
desta república democrática.
É por tudo isso que se impõe repelir aqui e agora,
com o máximo vigor,
essa inaceitável ofensa que tão levianamente foi assacada
contra a dignidade institucional e a alta respeitabilidade
do Supremo Tribunal Federal"
disse o decano.
"Os membros dessa quadrilha agiram com dolo de planejamento,
divisão de trabalho e organicidade.
Uma sofisticada organização criminosa,
como a ela se referiu o procurador-geral da República."
O presidente do STF e relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa, deu o quinto voto contra os embargos. Ele criticou explicitamente o papel exercido pelos dois ministros novatos, escolhidos pela presidente Dilma Rousseff quando o julgamento já havia sido iniciado:
"Sinto-me autorizado a alertar a nação brasileira
de que esse é apenas o primeiro passo.
Essa maioria de circunstância tem todo o tempo
a seu favor para continuar na sua sanha reformadora"
disse ele, que afirmou ainda que o STF vive uma tarde "triste".
Lavagem
Durante a tarde, a corte iniciou o julgamento dos embargos infringentes para o crime de lavagem de dinheiro – o que, entre outros réus, pode beneficiar o ex-deputado João Paulo Cunha - PT. Mas, com o quórum esvaziado, os ministros optaram por apenas ouvir as sustentações orais dos advogados e do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Luís Roberto Barroso nem mesmo retornaram após o intervalo do almoço. A apresentação dos votos foi agendada para o dia 13 de março. Se não houver surpresas, essa será a data do encerramento definitivo do julgamento.
Cá entre nós...
Segura Brasil... No seu chão, quem manda é os ladrões!
País onde bandido recebe salário dobrado, em comparação com o do trabalhador! Pura realidade!
Até quando?...