O Caso da Morte do menino Joaquim Pontes
Passo-a-passo
VI
Ribeirão Preto - 131108
Menino Joaquim não ia a escola há uma semana,
diz direção de colégio
Criança de 3 anos passava por adaptação após diagnóstico de diabetes.
'Nunca se queixou da mãe e do padrasto', diz assessora de direção.
O menino Joaquim Ponte Marques, de 3 anos, desaparecido há três dias em Ribeirão Preto-SP, não frequentava a escola há uma semana, segundo a assessora de direção do Colégio Lacordaire, onde ele estuda há quatro meses. Ivete Souza Morandini disse nesta sexta-feira (131108) que a criança precisou se ausentar das atividades por causa do diabetes – doença que foi descoberta em setembro deste ano pela família. Ela afirmou ainda que, apesar de pouco tempo na instituição, Joaquim é muito querido por todos e que ele nunca se queixou sobre a mãe e sobre o padrasto.
Joaquim desapareceu na madrugada de terça-feira (131105) de dentro da casa onde vive com a mãe, Natália Ponte, e o padrasto, Guilherme Longo, no bairro Jardim Independência. O casal, que segundo o delegado responsável pelo caso, apresentou divergências nos depoimentos, teve o pedido de prisão temporária negado na quinta-feira (131107) pela Justiça.
Em entrevista, a assessora de direção da escola contou que Joaquim foi matriculado no início de agosto, quando a família da mãe se mudou de São Joaquim da Barra-SP para Ribeirão Preto.
“Ele está conosco há pouco tempo, mas já é muito querido.
O Joaquim se adaptou muito rápido,
é um menino muito esperto e inteligente”,
contou.
Segundo Ivete, Joaquim não frequentava a escola desde o dia 29 de outubro, uma semana antes de desaparecer, por causa da adaptação da nova rotina após ser diagnosticado com diabetes, no final de setembro.
“A mãe disse que ele estava precisando de insulina com frequência e achou melhor deixá-lo em casa por uns dias para fazer esse controle”,
disse.
A assessora afirmou que até o fim de setembro, Joaquim nunca havia dado sinais de que estava doente.
“Ele frequentou agosto e setembro e no último dia (30 de setembro), participou de uma festinha de aniversário e outras atividades na escola.
Em nenhum momento nós ficamos sabendo de qualquer problema de saúde. Ele estava bem”,
comentou.
No mesmo dia, Joaquim foi internado na Unidade de Tratamento Intensivo - UTI, do Hospital São Paulo, em Ribeirão Preto, onde passou por exames e recebeu o diagnóstico de diabetes tipo 1. Segundo o pai do menino, o produtor de eventos Arthur Paes, Joaquim precisou ficar internado por alguns dias para receber cuidados e as doses diárias de insulina para manter os níveis de glicose no sangue dentro do normal. Sua rotina, no entanto, foi completamente alterada e ele passou a receber doses de insulina de 6 em 6 horas, de acordo com Paes. Neste período, o produtor de eventos afirma que visitou o menino várias vezes.
De acordo com Ivete, a diretora e a professora de Joaquim ligavam com frequência para ter notícias do estado de saúde dele.
“A mãe nos disse que ele precisou ficar internado,
porque tinha passado mal, mas estava melhorando”,
diz.
Depois de algumas semanas, o menino voltou à escola já com a rotina alterada.
“Ficamos atentas à alimentação dele e observamos as reações,
mas nunca teve nenhum problema aqui no colégio”,
afirma.
Na semana anterior ao sumiço, Joaquim estava sonolento e a professora ligou para a mãe para avisá-la sobre o comportamento.
“Sabíamos que era um sintoma do diabetes.
Ligamos e a mãe veio buscar”,
conta.
Desde então, a criança não retornou à escola.
Relação
A assessora de direção da escola conta que os profissionais envolvidos com Joaquim nunca observaram nenhum comportamento diferente entre Joaquim, a mãe e o padrasto. O menino, segundo ela, também não fazia queixas contra o casal.
“Nunca observamos nada de anormal.
Eles são uma família normal e nunca existiu nenhuma situação que chamasse a nossa atenção.
A relação dele com a mãe e o padrasto era muito tranquila”,
conta.
Segundo ela, Natália era quem na maioria das vezes levava e buscava o filho na escola.
Desde que Joaquim desapareceu, Ivete conta que o clima na escola não é dos melhores.
“Está muito difícil para nós.
Estamos tentando preservar os coleguinhas.
A professora está muito triste e estamos sentindo muito a falta dele,
apesar de estar conosco há pouco tempo.
Torcemos para que ele apareça logo.
Nossa esperança se renova a cada dia.”
O caso
Joaquim Ponte Marques, de 3 anos, desapareceu na madrugada de terça-feira, de dentro da casa onde mora com a mãe e com o padrasto no bairro Jardim Independência. Em depoimento à polícia, Natália afirmou que notou a ausência do filho pela manhã, ao procurá-lo no quarto, por volta de 7 hs, para aplicar uma dose de insulina, já que o menino é diabético.
Ainda segundo a mãe, as janelas da casa têm grades, o portão estava trancado, mas a porta da sala estava aberta. Natália afirmou que o atual marido é usuário de drogas e que teria sido ele o último a ter contato com o garoto, ao colocá-lo para dormir, por volta de meia-noite.
Longo, que admitiu ser dependente químico, contou que nas últimas semanas teve uma recaída e que chegou a sair de casa na madrugada em que Joaquim desapareceu para ir atrás de drogas. Ele disse que deixou a porta aberta ao sair, mas que voltou rápido porque não encontrou o que procurava.
“Quando voltei, cheguei em casa e fui dormir.
Esqueci a porta aberta.
Nesse período eu não fui no quarto do Joaquim.
Fui direto para a minha cama",
afirmou.
O padrasto que teve a prisão temporária pedida junto com a mãe pelo delegado negou que a dependência pudesse oferecer riscos ao menino e às outras pessoas com quem convive.
"Isso [vício] nunca fez eu mudar meu comportamento
com as pessoas que eu amo.
Algumas vezes eu já até entreguei coisas minhas,
mas eu nunca machuquei ninguém.
Eu sou incapaz de fazer isso.
O Joaquim, principalmente, eu amava esse menino",
disse.
O tio de Joaquim, Flávio Paes, que desde terça-feira acompanha os trabalhos da polícia ao lado do irmão Arthur em Ribeirão Preto, afirmou que o casal trata o desaparecimento com descaso.
“Eu acho muito estranho eles dizerem que estão preocupados,
mas não aparecerem por aqui [na delegacia].
Eles só vêm aqui porque a polícia manda.
A gente não dorme e eles estão em casa descansando”,
afirmou.