Três pragas já rondavam o Palácio do Planalto antes de domingo para tirar o sono da presidente Dilma Rousseff: Petrolão, recessão e apagão
Agora, com a humilhante derrota sofrida contra o PMDB de Eduardo Cunha na eleição para o comando da Câmara, apareceu mais uma: a solidão política. A cada dia, aumenta o número de opositores ao governo e diminui o de aliados.
É só fazer as contas: após as eleições de outubro, a presidente Dilma contava com uma ampla maioria da base aliada formada por 329 deputados eleitos, contra 181 da oposição.
Anunciado o resultado da votação para a presidência da Câmara, na noite de domingo, o placar simplesmente se inverteu: somando os 267 votos de Cunha, deputado federal do PMDB fluminense, um desafeto declarado do governo, aos 100 da oposição de Júlio Delgado (PSB, apoiado pelo PSDB), temos 367 deputados, contra apenas 136 de Arlindo Chinaglia, o candidato oficial do governo.
Foi o que restou de deputados fiéis ao governo com a estratégia do "tudo ou nada" adotada pelo novo comando político do Palácio do Planalto para derrotar Eduardo Cunha.
Pior do que isso: na sucessão de lambanças em torno da candidatura de Chinaglia, o trio formado pelos ministros planaltinos Aloizio Mercadante, Pepe Vargas e Miguel Rossetto, a tropa de choque de Dilma, o PT ficou sem nenhuma das 11 cadeiras da direção da Câmara dos Deputados. Ou seja, ficou com nada.
Mercadante já era o homem forte de Dilma ao final do primeiro governo, contestado no próprio partido e pelo ex-presidente Lula; Rossetto e Vargas foram recrutados por Dilma na Democracia Socialista gaúcha, uma tendência minoritária do PT.
Pela primeira vez na era PT, Lula sumiu de cena nas negociações para a formação do ministério e das novas Mesas que comandarão o Congresso Nacional nos próximos dois anos e acabaram jogando os descontentes do PMDB no colo da oposição.
A maior derrota política sofrida por um governo do PT, desde 2003, começou, na verdade, a ser plantada na formação do novo ministério, este verdadeiro saco de gatos que junta nulidades notórias com políticos de passado pouco recomendável.
De onde os sábios do Planalto tiraram esta ideia de jerico para diminuir a força do PMDB na Esplanada, em favor dos novos partidos de Cid Gomes (PROS) e Gilberto Kassab (PSD), dois políticos de expressão apenas regional, além de abrigar uma penca de nanicos? Deu no que deu.
No próprio domingo, antes mesmo do vexame anunciado do candidato do governo, Dilma convocou os ministros da (des)articulação política para uma reunião de emergência nesta segunda-feira. O governo quer propor um "acordo pela governabilidade" com o PMDB do agora todo-poderoso Eduardo Cunha, que vai comandar a agenda política daqui para a frente.
Agora??? Com sangue nos olhos, Cunha estaria interessado em qualquer tipo de acordo, a esta altura do campeonato, depois da blitzkrieg desfechada contra ele nas últimas duas semanas, com a utilização de todos os recursos oficiais imagináveis e não imagináveis, para evitar a traição dos aliados?
Conseguiram apenas aumentar a bronca dos parlamentares com o PT e o governo, jogar água no moinho do suprapartidário desafeto e atiçar a oposição formal, que perdeu as eleições de outubro, mas está toda fagueira chegando ao poder de fato, agora aliada ao PMDB de Cunha e da dissidência governista no Senado, engordada por partidos que eram da base aliada e foram desgarrando a cada movimento da tropa de choque dos trapalhões.
Fizeram strike. Posso imaginar o clima na abertura desta reunião de emergência.
E agora, presidente Dilma?
Se algum ministro tiver coragem de perguntar o que todo mundo tem vontade de saber, a presidente poderá retrucar aos seus companheiros de naufrágio:
E agora??? E agora???, pergunto eu!!!, meus queridos.
Lamento muito ter que dizer isso, mas este segundo governo Dilma começa em ritmo de Quarta-Feira de Cinzas antes mesmo do Carnaval. E corre o risco de acabar antes de começar.
Vida que segue.