Ele é acusado de ser mandante da chacina de Unaí
Em 2004, quatro servidores foram mortos em uma emboscada
O ex-prefeito de Unaí Antério Mânica, réu acusado de ser mandante da chacina de Unaí, pode ser interrogado nesta quinta-feira (151105), segundo dia de julgamento no Tribunal de Justiça Federal, em Belo Horizonte. Ele chegou ao tribunal escondido. No primeiro dia, 16 testemunhas de acusação e seis de defesa foram ouvidas.
Em 28 de janeiro de 2004, os auditores fiscais Nelson José da Silva, João Batista Lages e Eratóstenes de Almeida Gonçalves e o motorista Ailton Pereira de Oliveira morreram em uma emboscada. Segundo a acusação, o ex-prefeito e o irmão Norberto Mânica, condenado a 100 anos pela chacina, teriam encomendado o crime, devido ao rigor das fiscalizações trabalhistas feitas por Nelson José da Silva. No mesmo ano, Mânica foi eleito pela primeira vez prefeito da cidade e chegou a ter dois mandatos.
A sessão desta quinta-feira (151105) começou pouco depois das 8:30 hs com a exibição de vídeos e reportagens que constam do processo. Logo na sequência, será feita a leitura de peças dos autos. A expectativa maior é pelo interrogatório de Antério Mânica.
Nesta quarta-feira (151104), o réu delator no processo da chacina de Unaí, Hugo Alves Pimenta, disse em depoimento que não presenciou o suposto envolvimento do político no crime. Ele será julgado no dia 10 de novembro.
O empresário Hugo Pimenta, que é considerado um intermediador da chacina pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - MPF, tem um acordo de delação premiada. Ele prestou depoimento durante pouco mais de uma hora e disse só ter conhecimento do envolvimento do ex-prefeito nas mortes por terceiros. Para ele, o mandante do crime é Norberto Mânica, irmão do político.
Em um dos momentos em que citou o ex-prefeito, Hugo Pimenta disse que ouviu de Erinaldo Vasconcelos, outro acusado condenado por ser executor dos fiscais, que tinha um "homem bravo" dentro de um Fiat Marea e que ele era o Antério. Erinaldo também prestou depoimento nesta quarta. O detento disse que não viu quem estava dentro do carro e acrescentou que a informação foi repassada a ele por Francisco Pinheiro, réu que morreu há dois anos. "Fiquei sabendo através de Chico que era Antério", afirmou Erinaldo.
Este episódio narrado pelas testemunhas aconteceu na noite que antecedeu o crime. Segundo a acusação, um mandante em um Marea se encontrou com José Alberto de Castro em um posto de gasolina e autorizou matar não somente Nelson, mas toda a equipe. Apesar de relatar a conversa, Hugo Pimenta disse que não foi ao posto na noite em questão. O delator disse que tinha um Marea na época, mas era de cor prata, diferente do apontado pela acusação, que era, segundo investigação, de cor escura.
OUTRAS TESTEMUNHAS
Na parte da tarde, a testemunha de defesa José Henrique de Oliveira, que foi delegado em Unaí e participou da força-tarefa que investigou o caso, confirmou que lavrou em cartório uma declaração apontando que Antério Mânica não teria envolvimento com a chacina.
Ele disse que chegou a essa conclusão devido ao relatório policial. Porém, o ex-delegado admitiu que não teve contato com os documentos produzidos durante as investigações.
"Eu soube do relatório pelo doutor Wagner
(delegado Wagner Pinto). Eu não li o relatório"
Contou.
A declaração foi lavrada em cartório há poucos dias e a pedido de Antério Mânica, disse Oliveira.
Durante a manhã, o delegado de Polícia Civil Wagner Pinto, de Belo Horizonte, disse durante seu depoimento no júri que, no dia da morte dos fiscais, o fazendeiro ligou para a delegacia regional do Ministério do Trabalho em duas oportunidades. A primeira para perguntar se tais servidores haviam sido mortos e, a segunda, para confirmar que os quatro haviam morrido.
Rita Mundim, que atendeu aos telefonemas, também prestou depoimento como testemunha de acusação. “Era por volta de 9:30 hs, do dia 28. A pessoa ligou e perguntou quem era, ele identificou e ele queria saber se todos os ficais tinham morrido", relembrou. Depois, ela acrescentou que a pessoa se identificou como Antério Mânica. "O segundo telefonema, foi após 15, 20 minutos, e ele [ex-prefeito] estava confirmando que todos tinham morrido", afirmou.
Ainda segundo Wagner, com o andamento das investigações, verificou-se a existência de um Fiat Marea, de cor escura, em um posto de gasolina, na noite anterior ao crime. Pela investigação, este carro está envolvido na morte dos fiscais. A mulher de Antério Mânica tinha um carro do mesmo modelo à época do crime.
A mulher de Nelson José da Silva, Helba Soares da Silva, também contou que teve conhecimento das ligações de Antério Mânica para o Ministério do Trabalho para saber se os fiscais estavam mortos. Ela confirmou que o companheiro recebeu ameaças de morte durante a fiscalização. Segundo Helba, Nelson ouviu a frase "olha que objeto bom de enfiar na barriga de um preto", quando foi ameaçado. O objeto em questão é um chuço usado para furar sacas de feijão. Ela contou que ele tinha medo de ser morto e que estava pensando em se aposentar.
O julgamento de Antério Mânica tem o conselho de sentença formado por seis mulheres e um homem. A previsão era que 18 testemunhas de acusação e seis de defesa fossem ouvidas, mas duas pessoas que prestariam depoimento pelo Ministério Público Federal foram dispensadas. Segundo a Justiça Federal, a previsão é que o júri dure três dias.