Norberto Mânica foi interrogado nesta quinta-feira, terceiro dia do júri
Há 11 anos, servidores foram mortos durante apuração de trabalho escravo
"Nunca cogitei matar ninguém”, declarou, nesta quinta-feira (151029), Norberto Mânica, acusado de ser um dos mandantes da CHACINA DE UNAÍ, que resultou na morte de três auditores do Ministério do Trabalhador e de um motorista durante apurações de denúncias de trabalho escravo no Noroeste de Minas, em 2004. Ao lado de José Alberto de Castro, ele é julgado pela Justiça Federal, desde esta terça-feira (151027), em Belo Horizonte.
Mânica foi o primeiro réu a falar no julgamento. “Estou aqui para provar que não tenho nada a ver com isso aí”, disse logo no começo do interrogatório. Segundo a denúncia do Ministério Público Federal - MPF, por causa de fiscalizações trabalhistas, ele teria encomendado a morte do fiscal Nelson José da Silva. O fazendeiro negou ter feito ameaças à vítima, quem classificou como um profissional “austero, mas justo”. Ele afirmou que "não houve ameaça, não houve briga, houve uma discussão normal". Em certo momento, entretanto, ele se referiu ao desentendimento como “briga” e se corrigiu rapidamente.
O fazendeiro também deu sua versão para o episódio. Mânica disse que havia acabado de ganhar um calador de feijão – instrumento pontiagudo usado na lavoura – quando se dirigia para o escritório que fazia a contabilidade da fazenda dele e ficava em frente à sala do condomínio rural que mantinha com os irmãos à época do crime. Segundo ele, ao chegar na sala, encontrou Nelson e outros ficais, que questionavam o registro de alguns funcionários. Mânica disse que, então, houve uma discussão verbal entre ele e a vítima.
Ao juiz Murilo de Almeida, Mânica alegou que acredita que foi incluído no processo por causa deste desentendimento e também pelo registro de ligações telefônicas. Ele ressaltou, porém, que não atendeu ao telefonema que teria sido feito por José Alberto de Castro na manhã em que ocorreu a chacina.
O fazendeiro disse desconhecer o motivo pelo qual o empresário Hugo Pimenta o aponta como mandante do crime. Pimenta, que também é réu no processo, fez um acordo de delação premiada com o MPF e vai a júri popular em novembro. "É difícil acusar uma pessoa, mas pelas atitudes que o Hugo tem tomado", disse ao ser perguntado pelo juiz quem é o mandante da chacina, já que ele nega a acusação que pesa sobre ele.
Réu diz que vai confessar
O empresário José Alberto de Castro, acusado ser o intermediário da chacina de Unaí, vai confessar a participação na morte de Nelson, segundo o advogado Cleber Lopes, que o representa. "Ele não determinou que fossem mortos quatro pessoas. Participou de um homicídio. O Código Penal é claro: quem, de qualquer modo, concorre para o crime, deve responder à medida da sua culpabilidade", afirmou Lopes. O advogado disse que Castro está arrependido e que vai pedir para ser condenado pelo que fez. "Ele não está vindo aqui para pedir clemência, para pedir para ser absolvido", afirmou Lopes.
Segundo a defesa, José Alberto de Castro foi procurado pelo também empresário Hugo Pimenta para indicar um executor. “Ele quer ser condenado pelo homicídio do Nelson, porque isso foi o que foi acertado. Foi para isso que ele foi procurado. O senhor Hugo pediu a indicação de alguém para matar o Nelson. Ele foi a Formosa, procurou o senhor Chico Pinheiro, fez a indicação, acompanhou o senhor Chico Pinheiro", detalhou. Citado pelo advogado, Chico Pinheiro é Francisco Elder Pinheiro. Ele foi acusado de ter contratado os matadores e morreu há dois anos.
Arrolado como testemunha da acusação e da defesa, o delator Hugo Pimenta também é réu no processo e será julgado em novembro. Nesta quarta-feira (151028), ele afirmou em depoimento que José Alberto de Castro teria intermediado o contato entre Norberto Mânica e Chico Pinheiro. No depoimento, Hugo Pimenta disse que não está envolvido na contratação dos pistoleiros.
"Ao contrário do que o seu Hugo diz não há relação nenhuma do senhor Norberto com o senhor José Alberto. Eles não tinham relação pessoal alguma e isso ficou patenteado. O delegado de Polícia Federal Dr. Antônio Celso, que fez a investigação disse ontem aqui, categoricamente, que não foi apurada nenhuma relação pessoal entre José Alberto e Norberto", afirmou o advogado de José Alberto de Castro.
A previsão é que José Alberto de Castro seja interrogado nesta sexta-feira (151030). Após esta etapa, serão realizados os debates entre acusação e defesa. Na sequência, os jurados se reúnem para decidirem se os réus são culpados ou inocentes.