Mânica é acusado de ser mandante; José Alberto de Castro, intermediário.
Três fiscais do Trabalho e um motorista foram mortos em 2004 em Unaí.
Recomeçou na manhã desta quarta-feira (151028), em Belo Horizonte, o júri popular do fazendeiro Norberto Manica e do empresário José Alberto de Castro, acusados de serem mandante e intermediário da chacina de Unaí. A expectativa é que seja ouvido Hugo Pimenta, réu delator no processo que será julgado em novembro. Manica e Castro respondem no Tribunal de Justiça Federal pelo crime de homicídio doloso qualificado.
Em janeiro de 2004, três auditores do Ministério do Trabalho e um motorista foram mortos em uma emboscada. Eles investigavam trabalho escravo na região onde Mânica tem uma fazenda, no Noroeste de Minas Gerais. O alvo da execução seria, segundo testemunhas, Nelson José da Silva, um dos fiscais mortos. Ele era conhecido por ser rigoroso e ter conduta ilibada.
No início da sessão desta quarta-feira (151028), é ouvido o delegado aposentado da Polícia Federal, Antônio Celso dos Santos. Ele foi arrolado pelo Ministério Público Federal.
O júri começou nesta terça-feira (151027). O julgamento é presidido pelo juiz federal Murilo Fernandes de Almeida. Treze testemunhas de acusação já foram ouvidas, dentre elas duas viúvas de vítimas da chacina e Erinaldo Vasconcelos, já condenado como executor.
A mulher de Nelson José da Silva, Elba Soares da Silva, disse nesta terça-feira (151027) durante depoimento no júri do Tribunal de Justiça Federal, em Belo Horizonte, que o marido foi ameaçado pelo fazendeiro Norberto Manica, apontado como o mandante do crime.
"Já era um fato [homicídio] esperado por ele. Ele me falou várias vezes que ia acabar levando um tiro na cabeça", disse Elba. Ainda disse que Norberto teria intimidado o marido com um chuço usado na lavoura de feijão. "Isso é bom para enfiar na barriga de um preto", afirmou Elba se referindo à forma como Nelson relatou o caso.
'O patrão tinha pedido'
Erinaldo de Vasconcelos, condenado a 76 anos por ter participado da morte dos servidores, também apontou Norberto Manica como mandante do crime em depoimento.
"Tinham fiscais que 'tavam' dando muito trabalho a ele (Norberto)", disse ao ser perguntado sobre a razão da contratação dele para matar os fiscais e o motorista. O condenado disse que “o patrão tinha pedido”. Os procuradores do Ministério Público Federal perguntaram quem era o “patrão” e Erinaldo respondeu: “Manica”. Ele contou que recebeu R$ 40 mil pelo serviço.
O advogado de Norberto Manica, Antônio Carlos de Almeida Castro – o Kakay -, disse que não há provas que incriminem seu cliente. Ele insiste em dizer que os telefonemas que comprovariam a ligação de Norberto com os assassinatos são insuficientes já que ele não atendeu nenhuma das chamadas.
O advogado ainda acredita que Hugo Pimenta seja o verdadeiro mandante da chacina. “Eu acredito que o Hugo, ele, infelizmente, coordenou a operação”.
Além dos dois réus, ainda serão julgados o ex-prefeito de Unaí, Antério Manica, irmão de Norberto, e o delator Hugo Alves Pimenta. Este último conseguiu que seu processo fosse desmembrado e será julgado separadamente, no dia 10 de novembro. O ex-prefeito enfrentará o júri no dia 4 de novembro, todos na mesma corte.