Jornalista passou por cinco médicos
antes de conseguir um que a operasse.
Antes da cirurgia,
ela chegou a comprar roupa sob encomenda nos EUA.
Sofrendo com um distúrbio que provocava o crescimento irregular das mamas, a jornalista Bruna Presmic precisou enfrentar o preconceito e a resistência de cinco médicos ao longo de dois anos até encontrar uma cirurgiã plástica em Brasília-DF disposta a operá-la. O busto passou do tamanho 48 para 60 e cresceram de forma desigual. Em dezembro, ela passou por cirurgia retirou 6 kg dos seios.
Bruna, de 33 anos, notou o problema ainda em 2013. Os seios inchavam no período pré-menstrual, mas depois não voltavam ao normal. Mês a mês a situação se repetia. Ela perdeu roupas, teve dificuldades para encontrar o vestido de noiva e apelava a costureiras para conseguir sutiãs sob medida. Bruna fotografou as mudanças, mas na maioria das vezes era dispensada dos consultórios antes mesmo de conseguir mostrar as imagens.
"É uma coisa muito bizarra,
aí pensei que faria uns exames e iriam me ajudar,
mas não foi bem assim que aconteceu.
Os médicos, muitos deles, não todos,
mas muitos quando veem uma pessoa gorda
já associam qualquer tipo de sintoma com obesidade.
Foi isso que a maioria fez:
'vai lá, emagrece que você melhora'.
Mas não era isso"
Lembra.
Profissionais chegaram a recomendar que ela tentasse fazer cirurgia bariátrica [redução de estômago].
"Você via minha silhueta diminuindo,
mas o tórax e o seio crescendo.
Com certeza absoluta não tinha a ver com sobrepeso."
O aumento não ocorreu da mesma forma nos dois seios, e Bruna diz que não sentia dores. Depois de algum tempo, ela perdeu a sensibilidade na mama esquerda, que ficou bem maior que a outra. A jornalista chegou a se submeter a uma mamotomia – espécie de biópsia, feita com agulha grossa – sem anestesia.
"Fiz todos os exames que você pode imaginar:
biópsia, tomografia computadorizada, ressonância.
Nenhuma suspeita [da causa].
O que se chegou à conclusão, por alto,
é que meu seio,
mesmo meus hormônios estando normais,
os neurônios que captam os hormônios
estavam muito sensíveis
e começaram a captar [hormônios] de forma errada.
Mesmo recebendo na quantidade certa,
interpretavam errado e [os seios] começaram a crescer"
Explica.
A mulher, que tem 1,75 metro de altura, passou de 86 kg para 95 kg. As calças continuavam no tamanho 46. Bruna tinha, porém, problemas com as blusas: as que quando serviam no busto ficavam muito largas nos braços. Ela lembra que ficava "sem formas" dentro das roupas.
"Quando os seios cresceram,
eu realmente parecia muito obesa,
porque eram muito grandes.
Eu parecia uma capinha de bujão",
Diz.
"Casei em maio de 2014,
estava já no processo de crescimento.
Estava em 54 o sutiã.
Aí comecei a procurar vestidos por aqui, não tinha.
Os que tinham para fazer custavam R$ 10 mil, R$ 12 mil.
Aí fui buscando e encontrei uma designer
norte-americana, e aí mandei minhas medidas para ela.
Aí ela mandou para mim. Custou US$ 500,00."
No começo de 2014, Bruna ouviu de mastologistas que deveria procurar um cirurgião plástico para retirar o excesso. Ela acionou o plano de saúde, que alegou que o procedimento era puramente estético e que não tinha obrigação de arcar com a cirurgia. A jornalista foi então atrás do SUS, mas ouviu dos médicos que o procedimento só seria realizado se ela perdesse 30 kg antes. Na rede particular também não foi fácil: cirurgiões se negavam a trabalhar com gigantomastia (mamas maiores do que o normal).
"Médicos me disseram que não operariam
porque os seios não ficariam bonitos
e que o resultado era a ‘assinatura’ deles.
Depois eu sairia com os peitos feios por aí
e me perguntariam quem me operou,
eu diria que foi um deles e pegaria mal.
Eles falaram que não operariam porque ficaria feio"
Lembra.
Depois de peregrinar entre hospitais, Bruna encontrou uma profissional que trabalhava com reconstrução mamária. A médica pediu novos exames, consultou colegas e decidiu esperar que as mamas parassem de crescer para então fazer o procedimento. A situação se estabilizou no meio de 2015. O busto de Bruna media 143 centímetros, com tórax de 91 centímetros.
"Era difícil achar sutiã.
Se eu achasse, ficava muito largo no tórax,
não sustentava.
Encontrei uma fábrica de roupas plus size
que se comoveu e os fez sob medida para mim"
Lembra.
"Na época do crescimento anormal,
eu tinha de comprar novos de três em três meses,
porque os peitos começavam a vazar pelos lados.
Quando operei, já estavam nessa situação."
A jornalista conta que teve alta no dia seguinte às quatro horas de cirurgia e que não sentiu dores – foi necessário amputar os mamilos e depois enxertá-los. O incômodo vinha apenas dos mais de 70 pontos na região. Ela conseguia andar e comer normalmente e apenas adotou uma dieta com mais frutas e legumes para ter melhor recuperação. A sensação era de alívio.
"Quando eu acordei [da operação],
aquela pressão que eu tinha no peito havia acabado.
Sumiu a falta de ar, fiquei tão feliz.
Nem dormi para curtir minha respiração",
Conta.
"Agora visto tamanho 44, 46.
Tirei quase tudo, eu pedi para ela.
Eu queria bem pequeno mesmo.
Eu não queria mais nada pendurado,
nada sobrando."
Por causa dos mamilos enxertados, Bruna sabe que não poderá amamentar caso engravide, mas diz não se arrepender. O procedimento custou R$12.000,00 mil, e desde então a jornalista faz acompanhamento médico.
"Não tenho nem como mensurar a felicidade.
Quando me perguntam sobre,
falo para colocarem 5 kg no sutiã,
andarem e depois tirarem.
Eu não respirava direito.
Era ruim para sentar, para deitar.
Era uma falta de ar tremenda.
Eu não tinha posição para dormir.
Às vezes eu queria sentar na mesa
e pôr os peitos em cima, para aliviar o peso.
Comecei a respirar de novo,
e a sensação foi de liberdade"
Afirma.
Gigantomastia
A Secretaria de Saúde informou realizar entre 80 e 100 cirurgias de redução de mamas por ano. As operações acontecem nos hospitais regionais da Asa Norte-DF, Santa Maria-DF e Sobradinho-DF.
De acordo com o coordenador de cirurgia bariátrica da pasta, José Adorno, o problema atinge até 20% da população. As causas mais comuns são genética, obesidade, distúrbios hormonais e efeitos colaterais de tratamento contra câncer.