PM foi acionada quando homem negro entrou
no estabelecimento.
Direção da joalheria afirma não ter solicitado
serviço da polícia.
Um caso de suspeita de racismo tem repercutido nas redes sociais desde o último Sábado (160611), quando a esposa do motorista Frederico Antônio Nunes, Deizielle de Moura, postou na página pessoal dela um desabafo.
No depoimento, que chega a quase mil compartilhamentos e centenas de comentários, Deizielle conta que o marido foi destratado por uma atendente, em uma joalheria que fica no Centro de Montes Claros-MG, e que a funcionária havia acionado a polícia, que conduziu Frederico e o filho do casal, de 16 anos, à delegacia.
A direção da joalheria afirma não ter solicitado a ação da PM.
“Desde a chegada do meu marido, que é negro,
e do nosso filho à loja, já foram tratados com diferença.
Meu marido falou com a atendente
e ela simplesmente lhe deu as costas,
dizendo que não iria atendê-lo.
Outra atendente mostrou brincos ao meu marido,
que comprou um par à vista e saiu da loja.
Para surpresa dele e do meu filho,
eles foram abordados com arma na cabeça pela polícia.
Meu marido e meu filho adolescente foram revistados,
pessoas pararam para ver.
Os policiais, que não encontram nada, pediram desculpas e falaram que a funcionária teria ligado pedindo,
que um suspeito que estava na loja, fosse revistado”
Diz Deizielle no depoimento postado na rede social.
Frederico fez o registro de um boletim de ocorrência contra a joalheria.
Ele afirmou que no momento de registro, os policiais se desculparam pela ação.
“No momento do registro do B.O.,
por várias vezes eu ouvi pedidos de desculpa.
Os PMs afirmavam que uma denúncia indicava
que eu e meu filho éramos suspeitos.
Mas nós fizemos a compra à vista.
Tenho certeza de que não nos comportamos de maneira estranha.
Porque eu sou negro fui obrigado a passar por um constrangimento desses”
Lamenta.
O homem conta que, durante a abordagem da PM, ele se sentiu constrangido e preocupado com o filho, que tão novo passava por uma situação como aquela.
“Quando eu disse para o policial que ele não tinha o direito de por a arma na cabeça do meu filho e mostrei a sacola da loja, ele ficou sem graça.
Passei meu CPF, eles viram que não tinha nenhuma passagem, olharam o documento e viram que eu realmente era o pai do menino, aí eles se acalmaram.
Mas antes disso, levei chute, me mandaram colocar as mãos na cabeça, com arma em punho; todo mundo da rua estava vendo.
Fiquei muito nervoso e assustado com a situação”
Lembra Frederico.
A esposa de Frederico voltou à joalheria para devolver o brinco e pegar o dinheiro de volta.
Segundo ela, no momento da devolução, contou a gerente sobre o ocorrido, mas a loja não procurou se retratar.
“Eles só me devolveram o dinheiro, não falaram mais nada.
Eu disse a gerente que não queria um presente que fez tanto mal ao meu marido e a meu filho.
Contei a ela o que tinha ocorrido, mas ninguém se prestou a pedir desculpas, ou tentar reverter a situação”
Conta Deizielle.
O que diz a empresa
O G1 entrou em contato com a joalheria.
Os representantes do comércio, que é um dos mais antigos da cidade, garantem que não houve ato de racismo praticado dentro da loja, enfatizando que não houve solicitação de serviços da PM.
“A empresa vem a público manifestar que repudia quaisquer atos racistas, discriminatórios ou preconceituosos.
Esclarecemos que não solicitamos ou orientamos serviços
da Polícia Militar, portanto não há vínculo
com a ação praticada pela mesma”
Afirma a joalheria através de nota.
Durante entrevista, o representante da joalheria que pediu para não ser identificado, afirmou que a repercussão do caso foi assustadora e que o estabelecimento tem recebido ataques de ódio.
“Não estava sabendo de nada.
Quando vi na internet o depoimento da moça
e centenas de comentários afirmando
que merecemos ser boicotados,
que a loja deve ser pichada e depredada,
fiquei com muito medo.
Meus funcionários também estão muito assustados”
Diz.
A assessoria de comunicação do 10º batalhão da Polícia Militar, em Montes Claros-MG, garantiu que, no último sábado, uma denúncia da joalheria solicitou averiguação de suspeitos que estariam no estabelecimento, repassando, inclusive, características físicas deles.
Afirmou, ainda, que a abordagem de pessoas em atitude suspeita e a realização de busca pessoal faz parte da rotina de trabalho da Polícia Militar de Minas Gerais.
A redação do G1 também entrou em contato com a Defensoria Pública de Minas Gerais em Montes Claros.
Para o defensor Wesley Caldeira, responsável por casos de crimes raciais, em tese a ação da funcionária é crime de racismo e que a empresa deve sofrer ação civil indenizatória.
“Se ficar comprovado que a funcionária acionou a PM
por conta de um simples estereótipo,
ela praticou em tese crime de racismo.
É uma precipitação criminosa sem justificativa.
A loja também deve pagar indenização de danos morais
à vítima, caso se comprove o fato.
Apesar de o Brasil não ter tradição que honre
a dor das pessoas, dependendo do juiz que assumirá o caso,
a vítima pode ter direito a receber
de R$15.000,00 a R$20.000,00 mil reais”
Explica o defensor.
Caldeira orienta, ainda, que em casos de racismo ou injúria racial a pessoa deve procurar a Polícia Militar o mais rápido possível.
“É preciso que o registro do boletim de ocorrência seja feito e, além disso, que se procurem testemunhas do ocorrido.
Estes casos tem aumentado muito em Minas Gerais
e é uma conduta muito preocupante e injustificável”
Conclui Wesley.
Com Informações de: G1.
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